quarta-feira, 30 de outubro de 2013

APANHA DA AZEITONA

                         APANHA DA AZEITONA





O  inverno.....

O frio faz-se sentir com intensidade e a chuva «cai a cântaros» como costuma dizer-se. Antes do sol aparecer no firmamento lembrando-nos que um novo dia começa, já o rancho vai a caminho do olival ou estacal,onde,pendentes dessas árvores cujos ramos nos recordam a paz, as azeitonas aguardam pacientemente a altura de serem colhidas, ripadas ou varejadas.
Geralmente só os «rendeiros» têm o habito de »avarejar», porque sendo esta uma operação que danifica a arvore, os proprietários a ela não recorre,

Antes do inicio da labuta o pessoal costuma aquecer-se com um lume feito com tábuas velhas ou ramos de oliveira, que as geadas e os frios são tão tamanhos que as mãos e os pés ficam enregelados, não permitindo assim que o trabalho seja convenientemente realizado.

E se chove muito, os homens abrigam-se com sacas pela cabeça e as mulheres fazem capas com velhos retalhos de plástico. Enquanto as segundas estendem os panos ou panaias, os primeiros vão buscar o varejão e as escadas e, todos a postos, começam com entusiasmo a sua obrigação, levando-a a cabo com muito mais empenho se o serviço é de «empreitada» Dá-se este nome ao trabalho que é pago segundo a produtividade do operário.



O serviço feito «à jorna» é sempre mais moroso,porque quanto mais dias de trabalho levar, tanto melhor.
À tardinha, é o guardar das escadas e das varas e a limpeza dos frutos. Para isto, colocam umas escadas deitadas ao comprido no solo e inclinadas por meio dumas pedras ou duns paus e sempre contra o vento.
Tapam-nas com um panal, de modo a que façam uma barreira e,lançando a azeitona para lá, por meio de uma pá, as folhas ,mais leves, caiem no chão e aazeitona vai-se acomulando ao esbarrar no «muro» erguido pelo homem.
Posto isto, é ensacada, carregada em burros ou carroças  e levada para o lagar.

(Do livro -Motivos Alentejanos de João Ribeirinho Leal)





terça-feira, 29 de outubro de 2013

AS MONDAS

                                                   




As mondas com toda a certeza era um dos trabalhos campesinos que eram feitos com mais alegria. Das aldeias, todas as manhãs(por vezes depois de se ouvir o toque do búzio,chamando à concentração) partiam grupos enormes de raparigas, saia rodada de xadrês miudinho,blusas de cores garradias,chapéu preto,redondo, de abas reviradas e enfeitado com vermelhas papoilas.
Faces rosadas e alegres, lábios sorrindo como que a desafiar as ervas que iam arrancar, ao chegarem à seara «faziam os calções», isto é, atavam as saias  junto ao joelho e, de sacho em punho e olhos de lince, um pé aqui,outro acolá, iam arrancando o «sizeirão», o «palanco», a«margaça», os «saramagos» etc.
A labuta não as cansava.
Saiam de casa cedo, a rir como se fossem para uma festa; levavam o dia a cantar ao desafio e, ao «soltarem», voltavam para casa ainda a rir e a cantar.     

Durante o trabalho falavam de tudo, de modas,de casamentos,do enxoval próprio ou do das filhas e conhecidas, do último «escandalo» da terra. 

Muitas da quadras cantadas por essas raparigas, hoje mães de filhos e avós de netos,continuam ainda de boca em boca, muitas vezes pela voz dos Ranchos Folclóricos, como expressão saudosista dos tempos de outrora.                                                       

Os tempos mudaram, surgiu a monda quimica e com ela desapareceu das searas essa nota de atraente policromia- a Mondadeira.

 (do livro Motivos Alentejanos de João Ribeirinho Leal)