sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O MONTE

                                                                      O MONTE
                                                        


"Vila" romana, com as caracteristicas de grande propriedade agrícola, originou uma "instituição" que se manteve no Alentejo ao longo de séculos.

No meio dos campos semeados,perpetuado pela politica medieval de ocupação, defesa e povoamento, que levou Reis a doar imensas regiões às ordens militares, o monte é como uma pequena aldeia a que falta capela e cemitério. O verdadeiro monte tem um conjunto de construções e é geralmente situado numa elevação, dominando a maior área de terreno possível.

Já se perdeu a tradição da reunião de família e empregados à volta da lareira, sentados nos mochos, dividindo as tarefas do dia seguinte, contando histórias, ou, cantando, o seu encanto rústico ainda se mantém.
Nas pequenas fazendas, como nas grandes herdades " o monte" é a casa dos patrões ou dos rendeiros, e nele se abrigam também algumas famílias que constituem a corte rural.


Nas grandes herdades ,o monte é quase uma aldeia. Ao grande edifício central vieram juntar-se,um pouco arbitrariamente, os casões para o gado,as quadras, a casa do pateiro, a rouparia, os fornos de cozer pão , os alpendres para os carros, etc.
Mas embora aparentemente tudo isto se erguesse por além um pouco a esmo, cuidou-se sempre que as construções ficassem em 2 linhas que se defrontam e que formam o que em geral se chama " a rua do monte".
O monte é o centro do trabalho do campo.



O Monte Alentejano, coração da antiga lavoura, hoje apenas decorativo e evocador, no silêncio eloquente das suas alvas paredes, encontra-se quase desabitado já que o lavrador o abandonou.






À volta dele erguiam-se outras construções:


-A Capela-simples e modesta, com uma ou duas imagens no interior, o altar bem limpo e decorado com bonitas e valiosas rendas. Celebrada a missa, era da praxe o Prior almoçar com os donos da casa, benzendo a mesa antes e depois das refeições.

-A Casa do Guarda- semelhante a qualquer habitação da aldeia e onde este vivia com a mulher e os filhos
-A Quadra ou Cavalariça- casão grande e arejado, com piso calcetado e em cuja parede fronteira se localiza a importante manjedoura, mesa sempre posta com palha e feno , e onde os animais pernoitavam. Junto deles, dormia o «mulateiro», numa esteira ou tarimba e era ele quem à noite lhesw dava a ração e tinha por missão proceder à limpesa do estábulo.
-O Palheiro- recheado de palha, como o nome indica, que dali era tirada com «forquilhas» para fazer a cama das bestas e lhes encher a barriga
-A Vacaria- semelhante à quadra ou cavalariça, dela só diferindo por em vez de ser habitada por burros, mulas e éguas, se encontrar povoada de excelentes vacas leiteiras.
-A Capoeira- rodeada de redes com desenhos hexagonais, onde ,à noite recolhiam os «bicos» procurando no equilibrio do poleiro, o retemperar das forças para que no dia seguinte, muitos ovos aparecessem no local habitual, onde a lavradora os ia diariamente buscar. Aqui pernoitavam os bonitos galos, de alegre e garrida plumagem e voz de clarinete, que cumpriam escrupulosamente a sua missão diária de cantar ao amanhecer.
-O Ovil -de telhados baixos, onde só algumas ovelhas «afilhadas» e borregos passavam a noite, que a maioria dormia nas pastagens.
A Malhada-«casa de  habitação» de porcas «paridas» e leitões que não podiam acompanhar as «varas» que livremente se alimentavam no «montado».
-A Queijaria- que as mulheres primeiro caiavam muito bem, tiravam as pigas do chão,esfregavam as «ferradas» e «azadas», limpavam a banca, as latas para o requeijão e as cintas onde eram fabricados os queijos. Também era arranjada a «caniçada» onde o queijo fresco seria colocado aq «curar». Chamava-se «roupeiro» ao homem que fazia este delicioso conduto.
-O Lagar-apenas existente nas propriedades onde havia grande «ramo» de olival que justificasse a sua laboração.
-A Amassaria- casa ampla, cimentada ou calcetada, onde o pão era amassado, uma ou duas vezes por semana, conforme a quantidade de pessoal e os costumes que imperavam nas redondezas. O amassador ou a amassadeira, deixava sempre uma porção de massa de cada amassadura e que seria o fermento da seguinte
-O Forno- construido com tijolo «burro» tinha uma porta de ferro e servia para assar os borregos e os leitões e para coser o pão, que era para lá metido e de lá tirado com umas pás de madeira, com um cabo muito comprido.
-A Cozinha dos Ganhões-com grandes mesas rectangulares, algumas com tampo de mármore e com compridos bancos da mesma forma, onde a ganharia tomava as refeições e perto da quaal se situava a dependência que lhe servia de quarto.
-A Casa da Malta ou Gasalho-de paredes por rebocar e cheias de teias de aranha. Era aqui que descansavam os «sem eira nem beira» de quam o lavrador se compadecia. Tinha no chão umas esteiras e uns fardos de palha, tapados com mantas velhas ou sacos de azeitona e que servia de cama.
Nas lavouras mais importantes ainda existia a carpintaria ou abegoaria, onde o carpinteiro ou o abegão fazia e restaurava as carroças., carros e carretas e, a oficina de ferreiro, casa terrea, com uma forja.
-Os Ganhões- criados eventuais que desempenhavam os trabalhos mnais dificeis e que eram os ultimos da hierarquia campesina. Ganhavam mal.
-O Feitor- que era quem mais de perto contactava com o patrão e transmitia as ordens deste a toda a criadagem.
-O Cozinheiro- encarregado da confecção dos alimentos para todo o pessoal
-O Maioral-moural - como diz o povo, encarregado geral de todos os rebanhos. Nalguns locais chamam-lhe «rabadão»
-Os Ganadeiros- cada um com o seu nome proprio consoante o gado que guardavam.
(do Livro:-Motivos Alentejanos de João Ribeirinho Leal)


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